Implosão

Roncou daquela vez como se fosse a última
Bateu em sua mulher como se fosse a última
E em cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo largo
Postou-se a demolir como se fosse máximo
E pôs ao quarto andar cinco paredes flácidas
Tijolo por tijolo num destino trágico
Seus olhos emundados de tormento e ódio
Pousou a reclamar como se fosse lógico
Comeu seu pirão como se fosse nobre
Bebeu e perturbou como se fosse tosco
Parou e escarrou como fizesse música
E desabou ao piso como se fosse sóbrio
E flutuou no ar como se faz um louco
E se acabou no chão como papel de bala
E terminou no canto do banheiro imundo
Morreu buscando ajuda e entupindo o vaso

Roncou daquela vez como se fosse a última
Bateu em sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o lógico
E atravessou a rua feito sacola plástica
E pôs-se a demolir como se fosse sólido
Pousou no patamar quatro paredes trágicas
Tijolo por tijolo num desenho esquálido
Seus olhos emundando e entupindo o vaso
Postou-se a reclamar como se fosse o máximo
Comeu seu pirão como se faz um mágico
Bebeu e escarrou como se fosse sábio
Parou e perturbou como se fosse sóbrio
E desabou ao piso como fizesse música
E flutuou no ar como num feriado
E se acabou no chão feito fosse catarro
E agonizou no meio do banheiro louco
Morreu buscando ajuda esculhambando tudo

Roncou daquela vez como se fosse máquina
Bateu em sua mulher como se fosse nobre
E colocou ao plano quatro paredes trágicas
E pôs-se a xingar como se fosse tórpido
E flutuou no ar como se fosse um mágico
E se acabou ao chão como criança esquálida
Morreu na contramão atrapalhando o mundo

Por essa merda a fazer, por esse chão prá cuspir
E o vacilo sinistro e a vida a nos punir
Por me deixar invejar, por me deixar iludir,
Satã lhe mate

Pela peteca de pó que a gente entope o nariz
Pela matança e a desgraça que a gente tem que assistir
Pelas paredes imensas que a gente tem que implodir,
Satã lhe mate

Pelas vadia fuleira pra nóis gozar e sorrir
E pelas vespas macabras a envenenar e ferir
E a palavra final que vem pra nos denegrir,
Satã lhe mate.

Deixe um comentário